segunda-feira, 5 de outubro de 2009

5 de Outubro de 2009

"Talvez nem todos acreditem na história do diabo a quem podemos vender a alma. Mas todas as pessoas de quem se espera que entendam das coisas da alma, porque, na sua qualidade de religiosos, de historiadores e artistas, tiram disso bons rendimentos, o testemunham, todos reconhecem que a alma foi arruinada pela Matemática e que esta é a fonte de uma razão maléfica que, se por um lado fez do homem o senhor do mundo, por outro o tornou escravo da máquina. A secura interior a monstruosa mistura de sensibilidade em relação ao pormenor e indiferença para com o todo, o terrível abandono do homem num deserto de particularidades, o seu desassossego, a sua maldade, a indiferença extrema, a sua cupidez, frieza e violência, tudo isso tão presente no nosso tempo, será, de acordo com tais relatórios, única e exclusivamente resultante das perdas infligidas à nossa alma pelo pensamento lógico e exacto! E assim é que, já no tempo em que Ulrich se fizera matemático, havia gente que profetizava a derrocada da cultura europeia, porque o homem se esvaziou de fé, amor, simplicidade e bondade; e, curiosamente, todos eles foram maus em Matemática nos seus anos e juventude e de escola. Isso era para eles a prova provada de que a Matemática, mãe das ciências exactas e avó da técnica, era também a grande matriz daquele espírito que acabou por gerar os gases tóxicos e os aviões de combate." Robert Musil

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